Hoje aqui estou eu no velório de minha irmãzinha, que tem sua causa de morte ainda desconhecida. Tudo que sei é que ponho a culpa toda naquela velha...
Tudo começou com aniversário de quatro anos de minha irmã, festa essa que meus pais já vinham organizando há muito tempo, a lista de convidados incluía familiares, amigos da família, e alguns de meus amigos, mais alguém que não fora convidado apareceu, uma velha senhora de longos cabelos grisalhos caídos sobre os ombros, usava um longo vestido de festas negro e já envelhecido, lembro bem de seu cheiro, não era suor e nem de falta de banho, era um odor de que friamente comparo com mofo, ela trazia uma sacola negra cintilante que envolvia uma caixa cinza.
Apesar de não ser uma convidada minha mãe, mulher educada mostrou-lhe um lugar para sentar, pensamos ser amiga de algum dos convidados, mais me bastou um leve olhar para os rostos para entender que todos tinham a mesma curiosidade de saber quem era ela.
Minha mãe fez com que minha irmã se aproximasse da velha senhora para cumprimentá-la, assim como fizera com todos os outros convidados. A mulher entregou-lhe o presente e passou delicadamente a mão pelo rosto de minha irmã e com a outra lhe acariciou os cabelos, pude ver o receio de minha mãe quando ela fizera este ato, mais o que mais me assustou foram as palavras da velha "uma pequena garotinha tão linda, tão jovem", depois disso a festa continuou normalmente. Minutos depois percebi que a senhora tinha se ido.
No fim da festa a minha irmã começou a abrir os presentes, pude perceber que o presente da senhora não estava junto aos demais, fui até o quarto de minha mãe e percebi que ele estava sobre o guarda roupas, preferi não fazer comentários, pois eram óbvios os motivos de ele estar ali, minha mãe não queria que minha irmã abrisse a caixa sem saber o que ela guardava, afinal a mulher ainda era uma desconhecida. Quando o ultimo dos presentes foi aberto, minha irmã correu para a sala para brincar, enquanto minha mãe se dirigia para seus quarto, eu a segui. A caixa era pesada, rasgamos a embalagem cinza, mostrou-se então uma caixinha de madeira com detalhes forjados com ferro quente, eram símbolos estranhos, nunca os tinha vistos, e pela cara de minha mãe ela também não.
Quando minha mãe girou a pequena maçaneta que se encontrava na parte da frente da caixa, a porta se abriu, e dentro se mostrou uma pequena boneca de cera, ela tinha aspecto envelhecido, percebia-se o quanto era antiga, uma daquelas bonecas que só se encontram em casas de antiguidades, por mais estranho que seja, a boneca era extremamente parecida com a velha senhora, os cabelos, a aparência, o vestido tinha uma única diferença um pequeno babado em sua parte de baixo, era uma miniatura daquela mulher. A boneca estava sentada sobre um banquinho de madeira, quando minha mãe a retirou daquele "suporte" a boneca disse as seguintes palavras "Uma pequena garotinha tão linda, tão jovem..." não pude conter o espanto, aquelas eram a mesmas palavras da velha senhora.
Minha mãe pôs a boneca de volta em seu banco, e levou-a para o quarto de minha irmã e a colocou sobre a estante ao lado de outras bonecas.
Aquela foi a pior noite de minha vida, acordei em meio a madrugada com os gritos e choros desesperados de minha mãe, levantei e corri para seu encontro no quarto de minha irmã, meus pais estavam chorando sobre a cama da minha irmã, que exalava um cheiro horrível, era o cheiro da velha senhora, só que bem mais forte, percebi então que cheiro era aquele, era o cheiro de carne morta, seca em pleno estado de decomposição, não pude deixar de perceber que a caixa da boneca estava no chão, como se tivesse sido arremessada, peguei e percebi que a boneca não estava no lugar, ela estava jogada do outro lado do quarto, me aproximei a peguei meus pais olharam enquanto o fizera, quando virei a boneca para poder olhá-la, eu estremeci, a boneca sorria, isso me causou medo soltei-a no chão, foi então que um zumbindo, e uma voz que vinha da boneca:
"Garotinhas antes lindas, agora mortas..."
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